A Crise dos 3
Desde que os meus pais e o Dani foram embora eu nao estou normal. Digo normal dentro do que é possível se estar normal quando estamos fora de casa. Fora do nosso país. Dos nossos hábitos e costumes. Fora do já conhecido. E isso nao significa que o já conhecido seja a zona de conforto.
Amanha, dia 4 de janeiro, eu completo 3 meses de Barcelona. Parece mais pela quantidade de coisas novas e devido à rapidez com que tudo vai ocorrendo. Acho que foram 3 meses bons. Alguns dizem que eu tive sorte pra quem é recém chegada. Acho que sim. Apesar de eu nao ser uma pessoa chegada às superstiçoes, acho que tive sorte, sim. Sorte, coragem, paciência e perseverança. É o quadrado mágico.
Entao, voltando.
Desde que a minha galera volto pro Brasil eu me sinto meia boca. É difícil estar junto e de repente nao estar mais. O problema todo é o pós ida. É foda.
Achei que com a vinda deles eu estaria mais fortalecida, mas nao sei. Acho até que por um lado sim, mas no atual momento estou fraca e um pouco triste. Reflexiva. Às vezes sinto vontade de voltar pra casa, mas ainda noa é a hora. Me propus uma vida nova, a realizáçao de um sonho e agora to aqui e vou até o final. Desistir do jogo no meio da partida nao é comigo.
Tenho pensado muito. Às vezes estou acompanhada, mas me sinto só. Ou na companhia dos meus pensamentos. O afastamento é sempre difícil e doloroso. E nao me refiro só à minha família.
Ontem, no meio de idas e vindas na minha cabeça, pensei numa coisa que faz muito sentido pra mim. Talvez essa viagem seja o parênteses que eu abri na minha vida pra fazer coisas que em POA eu nunca conseguia fazer. Talvez agora seja a hora pra isso. Por exemplo: eu sempre quis fazer um trabalho voluntário, mas a vida louca em Porto me deixava tao fechada só pras minhas coisas que eu nunca consegui abrir um espaço pra esse tipo de coisa. E aqui, agora, sito vontade de dedicar um pouco do meu tempo pra uma coisa desse tipo. De preferencia com crianças - aproveitando que estou com o instinto maternal.
Sei lá.
Hoje tive uma conversa rápida com o Raimon, aqui em casa. Chorei. Nao me aguentei. Nem consigo explicar pra ele tudo o que eu sinto, porque estou numa situaçao que ele, como legítimo cdadao catalao, nao deve fazer idéia do que é. Mas, de qualquer forma ele foi compreensivo e se colocou à disposiçao. Talvez agora eu comece a me sentir um pouco mais a vontade aqui, nesse piso, que eu acabo de chamar de casa.
E só pra fechar: amanha, além de completar 3 meses fora do Brasil, eu volto a trabalhar com os malditos flyers.